As relíquias de buda
Monja Coen
MojPaz e Budismo
Foi há mais de 2.600 anos. O idoso monge deitou-se cansado. Sentia dores e mal-estar. Há três meses, vinha preparando todos para sua despedida final. Parecia ser esta a noite. Deitou-se usando o braço direito como suporte para sua cabeça raspada. Estava entre quatro grandes árvores de copas largas, na Índia.
Seus alunos foram se reunindo à sua volta. Passantes pararam. Animais se aproximaram. Era mesmo o santo Buda que ali se deitara e fazia um sermão aos que choravam: “Tudo o que principia tem um fim. Sejam vocês uma luz. Façam dos ensinamentos seus mestres. Assim eu viverei para sempre”. Depois, pediu silêncio e não se ouviu mais sua voz. Era Sidharta Gautama, o Buda Xaquiamuni.
Seu corpo foi perfumado, preparado adequadamente e queimado sobre uma pira de madeira incensada. Os restos foram guardados em urnas especiais, inicialmente colocados em oito locais. Essas urnas foram sendo subdivididas e, hoje, ninguém sabe em quantos locais existem pequenos fragmentos de seu corpo. Aproximar-se de um pedacinho de osso de Buda traz méritos infinitos e faz com que o bem e a verdade se manifestem. Buda é o desperto, o sábio, que faz o bem a todos os seres.
Dia 19 de junho, será feita uma grande cerimônia para as relíquias de Buda, que, pela primeira vez, chegam ao Brasil. Elas vêm de três países da Ásia. Essas relíquias viajam o mundo há três anos, desde que a Organização das Nações Unidas reconheceu o festival de Vesak. Sua caminhada é de alegria e de paz. Comemora o grande sábio da Índia, que pregava compaixão e sabedoria.
É de bom auspício vê-las chegar a São Paulo. Estarão no Sesc Pompéia, de 19 a 22 de junho, emitindo bondade e compreensão. Todos poderão visitá-las. Haverá uma grande recepção e preces de louvor. Preces pedindo um favor. Haverá preces de amor e preces por destemor. Preces de quem confia na possibilidade de transformar o mundo através da simples verdade. Preces pelo bem-estar do país, das multidões, sem discriminações. Preces contra a violência das gentes e da natureza. Preces por uma cultura de paz, inclusão e ternura. Preces pelo cuidado de cuidar, sem desviar verbas. Preces para alcançar a fome zero no mundo. Preces para acalmar os corações taciturnos, guerreiros e predadores. Preces para amansar os furiosos destruidores de vidas, de lares, de esperança. Preces para transformar mentes fechadas, corruptas, amargas, vingadoras e egocentristas em mentes amplas, corretas, doces, cheias de compreensão e prontas a se doar pelo bem da criação.
Criação que é inventada a cada momento por gestos, sorrisos, palavras de amigos e pensamentos de irmãos. Unidos na crença que não separa. Na crença que integra os seres e a natureza no respeito à vida em todas as suas formas. Crença de que é possível mudar. Mudando sem cessar e sem desistir da esperança. Esperança, não de esperar, mas de “esperançar”.
Vamos juntos unir nossas vozes em preces profundas como pede o papa em Roma. Vamos juntos unir nossas vidas em meditações isentas de intenções pessoais como pede um Buda em qualquer lugar. Que a Terra seja amada e respeitada. Que os seres vivam a bondade. Que sejamos sabedoria e compaixão.
Que possamos emitir raios luminosos de ternura, de respeito, de inclusão, de direito, de deveres, de integridade, de vida com qualidade, de equidade e de paz.
Seja bem-vindo Xaquiamuni Buda.
Suas relíquias são as montanhas, as terras, o céu, as águas e o ar. Suas relíquias estão em toda a parte e em meu coração.
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Quem é Monja Coen: Cláudia Dias Baptista de Souza, conhecida como Coen Rōshi ou Monja Coen, é uma monja zen budista brasileira de ascendência portuguesa, e missionária oficial da tradição Soto Shu com sede no Japão
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