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Monja Coen: Equinócio

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Monja Coen: Equinócio

Monja Coen
Paz e Budismo

O dia e a noite são iguais. Hoje, 21 de março, o dia terá a mesma duração da noite. Equinócio. Muitos povos festejam a data. Há quem acredite que este é o primeiro dia do ano. Há quem diga que é em dias como este que a “Terra pura”, o “paraíso do oeste” está mais próximo.

Farei uma prece especial, por volta do meio-dia, rezando para que todos os espíritos alcancem a paz. Vivos e mortos. Todos temos o mesmo direito e a mesma capacidade de alcançar a grande tranqüilidade.

Por que alguns são bons, e outros, maus? Por que alguns procuram a paz, e outros, a guerra? Por que alguns são bandidos, e outros são mocinhos?

Na tarde em que houve o atentado em Madri, eu não sabia de nada. Fui ao supermercado, e o meu amigo que sempre me ajuda a levar as compras até o carro lamentou o que acontecera na Espanha. O que seria?

Não quero ser eu, senhora, a lhe dar tão má notícia.
Diga logo, por favor, o que foi que aconteceu?

Coisa feia. Terrorismo, morte, horror.

Que barbaridade! Que pena!

Dizem que as penas são dos penados e que penar é danado de ruim. Ficar penando, sofrendo. Sofremos todos.

Milhões marchando unidos contra a violência, pela paz. Que lindo, não fossem as mortes, as dores, os horrores.

Precisamos nos unir, sim. Precisamos reacender a chama da vida como prioridade. A vida vale mais do que dinheiro, do que juros, do que emendas constitucionais. A vida vale mais do que a fome que nos mostra as costelas magrinhas das crianças desnutridas. A vida vale mais do que uma posição política, religiosa ou filosófica. A vida vale mais. Proteja a vida. A vida se protege com a própria vida, sem perder a vida.

As pessoas gostam muito de me perguntar se Jesus era um Buda, Quem sabe? Não posso misturar as coisas. Dizem que Jesus era o filho de Deus. Filho único. Buda é um ser iluminado, é aquele que acordou, aquele que vê a realidade como ela é e interfere, age, atua para o bem de todos. É aquele que renuncia ao seu próprio bem-estar para salvar os outros.

Mas não dê a sua vida. Não se atire como bomba sobre pessoas e casas. Não é isso. Não se mate. Não matem e não morram por causas. Fiquem vivos.

Que absurdo matar. Seja lá por qual razão. Planejar ataques com bombas em lugares públicos é arte do malvado que nos quer ver brigados. Podemos ser todos amigos, viver no mesmo local. Mas existem a ganância, a raiva e a ignorância, três venenos terríveis, que nos deixam abobados. Perdemos a “Terra pura”, perdemos os nossos amigos. O mundo todo se torna uma guerra de improviso.

Médicos e policiais resgatando vítimas. Como estariam os seus corações? Gelados dedos de geladas mãos. E a multidão em passeata pela paz. Eleições na Espanha, difícil de acreditar.

Há outra palavra parecida com equinócio: eqüidade. Eqüidade é diferente de igualdade. É a disposição de reconhecer igualmente o direito de cada um. É o respeito igual aos diferentes. Respeito aos que pensam de maneira diferente.

Respeito aos que se vestem com roupas diferentes, aos que falam idiomas diferentes, aos que mantêm costumes diferentes. Respeito à diversidade da vida.

Que as nossas preces possam ser ouvidas! Que a nossa meditação possa ser sentida! Que se encontrem soluções pacíficas para os conflitos! Que haja hoje, neste dia de equinócio, a eqüidade necessária para levar para o outro lado – o lado da sabedoria toda a espécie humana e tudo aquilo que nos mantêm vivos.

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Monja Coen

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Quem é Monja Coen: Cláudia Dias Baptista de Souza, conhecida como Coen Rōshi ou Monja Coen, é uma monja zen budista brasileira de ascendência portuguesa, e missionária oficial da tradição Soto Shu com sede no Japão

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