Monja Coen: Em defesa das diferenças
Monja Coen
Paz e Budismo
Luz e sombra. Noite e dia. Positivo e negativo. Feminino e masculino. Como delinear a diferença? O que separa é o que une.
O Sol é a deusa da luz. A Lua é o lua refletindo a luz dela, tão bela, que dá vida à sua vida. Separamos, diferenciamos, discriminamos e criamos situações em que não sabemos como agir. Ela é mulher, mas provoca, inflama a ira, atreve-se a querer ser como os homens. Quem deu o padrão? Ele é o macho sem sensibilidade, que não houve nada, só esmurra e grita. Será que é assim? Será que somos assim de verdade? Veja lá dentro como tudo se funde no homem que chora e na mulher que combate.
Homens maquiados, roupas de grife, cabelos pintados, gestos delicados, suaves, mãos bem tratadas. Bigodes, barbas, anéis e correntes já não são seus enfeites. Também usam brincos. Alguns delicados, brilhantes ou dourados. Outros, como os nativos índios amados, colocam madeira para abrir buracos nos lobos da orelha de um lado ou dos dois.
Os piercings nas bocas, nas sombrancelhas, nas mamas, pelo corpo espalhados. Sinais de autocontrole, de suporte à dor, como as tatuagens em locais delicados.
As mulheres igualmente se vestem com calças, sapatos enormes de solas bem altas. Nem mais pintam os lábios do antigo carmesim. E tudo se confunde para quem não consegue ver além da superfície.
Na sua macheza, ensinada e aprendida, precisa controlar e dominar a fêmea. Mas a jovem de hoje é incontrolável. É mais homem. Relacionamentos quebrados. Surgem atritos, enfrentamentos, confrontos e deslocamentos.
No jornal, os meninos de mãos na cabeça. Estariam todos se alongando ao sol de verão? Ou eram as armas de seus outros irmãos que estavam apontadas em sua direção?
Prisioneiros de celas fugindo por túneis. Prisioneiros de guerra sofrendo torturas. Prisioneiros nas casas de muros cada dia mais altos. Até onde subirão os muros que nos protegerão? Há proteção contra nós? Policiais em blitz, com armas na mãos. Tanto perigo, tanta aflição.
Uma simples mudança de orientação. Mais feminilidade em nossa canção, em nossa caminhada compartilhada. Mais linhas arredondadas nos prédios, nas casas, nas mentes e no coração. Valor à vida, com responsabilidade e dignidade. Uma corda muito esticada se parte. Uma corda frouxa não cumpre sua função. Não a corda que enforca, nas penas de morte, que causam mais penas em toda a nação.
Nos E.U.A, foi feita uma enquête em que perguntavam se a vítima se satisfazia assistindo à morte do agressor. Morte julgada e condenada por corte suprema. Não adiantava. A dor continuava. “Queria ver de novo e de novo ele (ela) morrer.” Só se morre uma vez.
Na estrada, a caminho do aeroporto, há ainda alguns pássaros que migraram. Lagos refletem luzes e galhos. Outono dourado nos arredores de Nova York. Quando nos lembramos de 11 de setembro, por causa de um carro todo pintado com a bandeira, ficamos em silêncio. Um silêncio triste e pasmado, de uma dor profunda que trascende a vingança, o ódio e o rancor. Silêncio que se compromete em um gesto de dor a jamais responder à violência. Tarefa difícil. É fácil gritar, é fácil brigar, é fácil morrer e, até mesmo, matar. Difícil e forte é quem age com acerto. Não apenas reage, boneco manipulado. Força e coragem precisam aquelas pessoas sinceras que fazem a opção de negar tudo que contrarie o bem da verdade, da vida.
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Quem é Monja Coen: Cláudia Dias Baptista de Souza, conhecida como Coen Rōshi ou Monja Coen, é uma monja zen budista brasileira de ascendência portuguesa, e missionária oficial da tradição Soto Shu com sede no Japão
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