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A grande sabedoria perfeita

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A grande sabedoria perfeita

Chegou o tempo de todos nos comprometermos com a construção de uma cultura de paz e harmonia.

Durante os primeiros dias do ano novo e mesmo durante todos os dois primeiros meses do novo ano, nos templos da minha ordem, Soto Shu, realizamos uma cerimônia chamada Dai Hannya, que significa Grande Sabedoria.

Invocamos a Grande Sabedoria, aquela capaz de fazer a rendição completa de todos os grandes demônios.

Exorcismo? Quase isso. Há três venenos principais que nos perturbam, a nós, seres humanos: ganância, raiva, ignorância. A partir destes três básicos, outros se desenvolvem, como ciúmes, inveja, preguiça, gula e assim por diante.

Demônios são estados mentais, estados de separação, de inverdades, de tentações, de traições, de provocações da mente pequena. Essa mente que se imagina separada do todo, que deseja apenas para si, para seus amigos e parentes, que odeia ideias e pareceres diferentes das suas ideias.

Conhecemos demônios assim? Conhecemos pessoas, grupos, países que vivem a ignorância da violência, do abuso, das guerras, dos conflitos armados, da miséria, da fome, da ousadia de ferir, matar, abandonar, castrar, destruir a Terra e seres da Terra?

Como obter a rendição desses demônios?

Definitivamente não é através de ações-espelho, não é através de ações semelhantes.

A rendição dos demônios é realizada quando retornamos à sabedoria, quando temos uma compreensão clara da realidade e somos capazes de uma ação efetiva, adequada, transparente. Uma ação sem ódios, sem rancores, sem mágoas.

Ação sábia não é retaliação. É justa. É correta. É compassiva.

De pé e com fé, na madrugada do dia primeiro de janeiro, o abrir do ano novo, revolvi um dos 600 volumes do Sutra da Sabedoria Perfeita, para que o vento de Prajna Paramita (Sabedoria Completa, que nos leva até a outra margem, nos leva a uma outra óptica da realidade, a óptica Buda) se espalhasse nas dez direções e pudesse atingir todas as pessoas em todos os lugares.

Desde as mais humildes moradoras de rua, andarilhas do mundo, até as mais soberbas pessoas. Todos e todas são capazes de despertar. São seres humanos com a capacidade de compreender claramente a realidade e, de pé e com fé, acessar a sabedoria suprema, a sabedoria das sabedorias, acima da qual nenhuma outra sabedoria existe.

São estas as bênçãos de ano novo. Paciência, como repetiu o Papa Francisco na Missa do Galo. Em pé e com fé, como falou a presidente Dilma ao povo brasileiro no dia primeiro de janeiro, depois de colocar em si mesma a faixa presidencial.

De pé, para mim, significa de prontidão, disponível para fazer, para agir rapidamente. E o que é a fé? Confiança, crença, esperança nas pessoas, na verdade, no caminho de sabedoria.

Que este ano, chamado pelo horóscopo chinês de Ano do Carneiro, seja um ano de reconciliação, de sabedoria, de harmonia.

Chegou o tempo de todos e todas, juntos, simultaneamente, nos comprometermos com a construção de uma cultura de paz. Cultivar, plantar, semear, cuidar e oferecer um banquete delicioso que satisfaça e faça com que se rendam todos os demônios das dualidades, das discriminações, dos preconceitos, do pensar pequeno e tacanho. Para que possamos viver uma vida digna e grandiosa.

Que a paz prevaleça na Terra. Maha Prajna Paramita. (Grande Sabedoria Perfeita.)

Texto da Monja Coen publicado no jornal O Globo de 08/01/2014

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Monja Coen

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Quem é Monja Coen: Cláudia Dias Baptista de Souza, conhecida como Coen Rōshi ou Monja Coen, é uma monja zen budista brasileira de ascendência portuguesa, e missionária oficial da tradição Soto Shu com sede no Japão.

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