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Monja Coen: Ode a kigen

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Monja Coen: Ode a kigen

 Monja Coen

Paz e Budismo

Ele era um floricultor feliz. Tivera seus filhos e uma companheira amiga e vivia cultivando a terra e as flores belas. Bebia em algumas noites, com os amigos, levantando o copo de cerveja ou o de saquê entre os dedos grossos e fortes, manchados pela terra, e cortados pelo frio.

Nas cerimônias anuais das danças de roda, subia as escadas montadas, especialmente, para os tambores enormes. Lá, ele tocava, revezava-se com amigos antigos. Tocava um som sereno e possante. As mulheres dançavam, e as crianças, os idosos e muitos dos homens também se alegravam entrando na roda.

Dizia-se, então, que os ancestrais, todos, sem exceção, vinham verificar como estavam seus descendentes vivos. Era preciso dançar com alegria e mostrar que se mantinha a tradição do Japão, mesmo em terras do interior do Brasil. Tudo isso era feito no terreno compartilhado pelo templo budista e pela Associação Cultural do Japão.

Ele parecia feliz. Alto, encorpado, sempre disposto a ajudar nos arranjos e na preparação. No final da festança, também ajudava a por tudo de lado. Foi a ele que caiu a incumbência de se tornar o monge do templo. Foi solicitado e disse não. Afinal, era floricultor. Se seu pai fora monge no Japão, isso fazia muito, muito tempo. Não. Mas o irmão mais velho havia sido o fundador do templo na cidadezinha. As imagens todas, os altares, tudo era feito no Brasil. Um templo bonito, limpo, em um terreno amplo, mas o monge fundador, irmão dele, havia voltado ao Japão. O templo não tinha monge responsável. Fazia falta um monge local. Insistiram. Ele coçou a cabeça e acabou aceitando. Já estava com mais de 60 anos, e o trabalho no campo começava a pesar.

Mudou-se para a casinha nos fundos do templo. Senhor e senhora. Ela iniciou seus estudos com as outras senhoras dos cantos sagrados. Cozinhava, varria, limpava, cozia e sorria. Era feliz. Ele aprendia a rezar, a usar roupas antigas e sua memória voava para os tempos de infância.

Ainda era difícil ficar à vontade, sentado na frente de todos os amigos e conhecidos, lendo rezas, encomendando espíritos. Vinha pedir auxílio, orientação, em São Paulo. Era um homem bom e simples, que estava sempre pronto a ajudar. Fumava disfarçadamente. Trabalhava eficientemente.

Do Japão vieram seus parentes ricos e importantes, representantes de templos grandes. O fizeram monge em frente a todos da cidade. Vestiu definitivamente os hábitos negros. Não sei quanto tempo se passou e ele teve um derrame. Ficou paralítico. Pensaram que iria morrer. A mulher se desdobrou em cuidados. Ele era pesado, mas ela dava conta. Banhava, vestia, alimentava e rezava. Ele foi melhorando, ela foi definhando, definhando e morreu.

Ficou sozinho o monge, em uma cadeira de rodas. Um dos filhos veio cuidar do pai. Ele já não ria, já não mexia nas rosas. Seus dedos ficaram limpos de terra e não levantavam copos. Nas cerimônias solenes, se sentava encolhido e magro. Chorava feito menino, triste de seu destino.

Morreu em 21 de julho, sozinho em seu quarto. Adormeceu e se foi, no silêncio da madrugada. Que o venham receber todos os anjos e fadas. Que o venham acolher os budas. Eu o conheci bem e, no seu olhar, notei a pureza, a honra e a bondade. Ascende Kigen Osho, monge de hábito negro. Sobe para a luz mais clara e mais radiante, para o céu que adorava contemplar. Reencontra sua amada, seus pais e todos aqueles companheiros que, antes de você, se foram, alguns dos quais você encaminhou ao orar. Ascende para a luz mais clara e encontra os budas iluminando para sempre e sempre a sua estrada. Mãos em prece. Namu Xaquiamuni Buda.

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Monja Coen

Imagem da Monja Coen

Quem é Monja Coen: Cláudia Dias Baptista de Souza, conhecida como Coen Rōshi ou Monja Coen, é uma monja zen budista brasileira de ascendência portuguesa, e missionária oficial da tradição Soto Shu com sede no Japão

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